ERA UMA VEZ O CINEMA


Céu e Inferno (1963)

cover Céu e Inferno

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País: Japão, 143 minutos

Título Original: Tengoku To Jigoku

Diretor(s): Akira Kurosawa

Gênero(s): Suspense, Drama, Crime, Mistério

Legendas: Português,Inglês, Espanhol

Tipo de Mídia: Cópia Digital

Tela: 16:9 Widescreen

Resolução: 1280 x 720, 1920 x 1080

Avaliação (IMDb):
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8.5/10 (24598 votos)

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PRÊMIOS star star star star star

Mainichi Eiga Concours Award for Best Film

Sinopse: Tengoku to jigoku: do céu ao inferno. É exatamente este o longo percurso do filme de Akira Kurosawa – começa em uma bela casa, no alto de uma colina, e vai descendo, descendo… até o submundo moderno na investigação de um crime. A história é claramente dividida em três partes, cada qual com um tema e protagonista, e sobre elas farei algumas considerações:

Primeira parte: O céu e o personagem de Toshirô Mifune

Após um rompimento com os outros sócios da grande empresa de sapatos que trabalha, Kingo Gondo, o personagem de Mifune, revela que, após anos de trabalho árduo, conseguiu levantar quantia suficiente para adquirir a maior parte das ações e tomar o controle da empresa – tendo para isso que hipotecar até mesmo a sua casa. Um telefone, porém, muda completamente o panorama: quem está do outro lado da linha é um seqüestrador. Diz ele que tem em mãos o filho de Kingo Gondo e como resgate exige 30 milhões de ienes. No entanto, por um erro de cálculo, outra criança é seqüestrada: o filho do chofer. Um alívio, mas o caso está encerrado? É justamente aí que reside a premissa inesperada e brilhante do filme: se fosse o filho do protagonista, provavelmente teríamos uma história ordinária, clichê para os dias atuais; mas não, é a vida do filho de um simples chofer que está em jogo. Daí que o comportamento de Mifune, situado à beira do abismo (afinal de contas, pagar o resgate seria decretar sua própria falência), desse momento em diante, indicará exatamente quem ele é – em outras palavras, quais são os princípios deste homem. É o tema central dessa primeira parte: Quanto vale uma vida? Ou melhor, quanto vale uma vida nesses tempos dos grandes negócios, da insensibilidade diante dos problemas alheios, da ambição sem limites?

Segunda parte: O processo investigativo e a polícia

Não é grande revelação adiantar que a criança é salva. Isso acontece antes da metade do filme. Deste momento em diante, tudo gira em torno da busca pelo criminoso. O protagonista dessa segunda parte é a própria polícia local. Akira Kurosawa se esforça em mostrar como funciona o processo de investigação, especialmente numa longa cena com os vários departamentos reunidos para expor os materiais coletados. O problema é que há exposição demais. Talvez os realizadores tivessem a intenção de ressaltar a importância da polícia – e também dos cidadãos comuns que ajudam na investigação, e até mesmo da própria imprensa, poucas vezes tão bem avaliada no cinema. Para mim, porém, essa parte do filme acaba funcionando mais como didática. A conseqüência inevitável é a perda da força narrativa. E um pouco de sono.

Terceira parte: O inferno e o criminoso (Tsutomu Yamazaki)

Nos momentos finais de Tengoku to jigok, a obra eleva a sua potência ao máximo. Essa terceira parte é uma obra-prima. Tal qual um grande filme noir, Akira Kurosawa consegue captar com perfeição o que está acontecendo nas ruas – penetra nos ambientes mais sórdidos e esquecidos. Acompanhamos, de olhos bem abertos, os passos finais do criminoso, já revelado ainda na primeira parte, pelo submundo moderno. No ápice do desconcerto visual e temático, somos levados a um dos vários corredores dos viciados em drogas, que contorcem seus corpos imundos e arranham as paredes. É o próprio mundo dos mortos. O que interessa aqui é saber o motivo do crime – aliás, todo o filme é direcionado a essa revelação, que só acontece na última cena e fecha bem (quase perfeitamente) a unidade e crítica social da história.

O saldo final, como deu para perceber, indica a qualidade inegável de Tengoku to jigok. O problema está mesmo na parte do meio, que tem um certo tom burocrático e poderia ser mais sintetizada. A primeira terça-parte, intensa dramaticamente, para justamente se unir com perfeição ao noir da última, mereceria um elo de ligação mais direto, menos auto-explicativo. Não se justifica, ao menos para mim, um miolo tão didático. A síntese, mais uma vez, revela sua importância fundamental.

 

Elenco: